A internação
Quando meu filho estava com nove dias ele apresentou um quadro de um resfriado super leve, levamos na pediatra e estava tudo bem. Depois de alguns dias eu estava sentindo que a respiração dele estava difícil. Ele estava com dificuldade para amamentar. Então, resolvemos, juntamente com a médica, levar ele no hospital para avaliação.
Fizemos o Raio X e voltamos para casa porque fomos liberados. A madrugada que passamos em casa depois que voltamos do hospital foi bem sofrida. Tentamos ao máximo dar o leite para ele. E foi quando eu senti que realmente ele não estava legal e iria ser internado. E foi exatamente o que aconteceu.
No dia seguinte a pediatra falou para eu levar ele no consultório para ser avaliado. E logo ela disse que não deveria ter voltado para casa e que era para eu levar ele para UTI naquele momento. O que aconteceu foi que o resfriado evoluiu para uma bronquiolite. E aí foi aquele choque. Foi muito difícil. Eu jamais imaginaria que isso poderia acontecer com a gente, nunca achamos que coisas ruins vão acontecer com a gente.
Desafios na UTI
Nós tivemos vários desafios nesse período de doze longos dias em que o meu filho estava internado. Foi um período de muita luta. O mais difícil foi logo no primeiro dia quando eu vi ele frágil, somente com fraldinha na incubadora e isso cortou meu coração. Nós fizemos de tudo para não irmos para o hospital e de repente estávamos ali no lugar mais frio que é a UTI.
Dentro das condições que nós tínhamos, sei que fizemos o possível para que ele ficasse bem. Eu ficava todo o tempo com ele e saia somente para me alimentar. E sempre me esforçava para ir comer em casa e ver o meu filho maior. Ele também sentiu muito com isso, porque de repente o irmãozinho não estava mais em casa e ele perguntava e sentia sua ausência. Quando eu estava em casa, o meu marido estava no hospital, e vice-versa. Recebemos também muito apoio das nossas famílias. Foi muito bom esse apoio porque fiquei mais tranquila em relação ao meu filho maior.
Pude então focar no meu filho que tinha acabado de nascer e que estava precisando muito da minha atenção. Foi muito difícil ver ele na sonda por alguns dias. Ele não tinha forças para mamar. Ou ele respirava, ou ele mamava. Eu também não podia pegar ele no colo e isso foi muito doloroso para mim.
Vínculo mãe e bebê
Depois de alguns dias ele continuou com a sonda, mas já voltou a amamentar. Em alguns momentos eu também ficava com muito medo de não produzir leite por causa de toda essa situação que estava acontecendo. A questão da amamentação também foi muito difícil. O hospital que deveria me apoiar na amamentação, na verdade mais me atrapalhou do que ajudou. Eles faziam de tudo para me desincentivar. Eu era a única mãe que amamentava o bebê. Todas as outras ofereciam fórmula para o filho porque elas viviam aquela situação de total desamparo.
Cada dia era uma vitória. Cada dia era um dia. Eu não pensava quantos dias meu filho ficaria ali. Porque não importa a quantidade de dias, o sofrimento é o mesmo. Você chegar em casa e olhar para o quarto e ver que ele não está lá. Olhar para a sua cama e ele não estar ali. O pior momento era ir para casa, ter que me despedir dele a noite e voltar sem o meu bebê. O difícil foi ver esse vínculo se rompendo de forma tão brutal e dramática.
Superação
Hoje ainda estamos em um processo de reconstrução desse vínculo. De garantir que ele saiba que nós não vamos deixá-lo sozinho. Sei que ele se sentiu abandonado ali, mas não foi por nossa escolha. Então, é um processo de reconstrução da segurança. Quando ele voltou do hospital não conseguia ficar longe de mim. Ele ficou totalmente inseguro. Até hoje é assim. Se eu levanto para ir ao banheiro, ele acorda.
Logo quando voltamos, ele só dormia segurando o meu dedo. Foi preciso ter muita força. Foi super desgastante porque ele ficava grudado no meu colo ou no colo do meu marido o tempo todo. Foi uma alegria imensa ter ele em casa novamente, mas ao mesmo tempo era muito cansativo. O sling me ajudou muito. Eu sempre deixava ele pertinho de mim, escutando meu coração e sentindo o calor do meu corpo.
Ainda não tive tempo de me permitir chorar o luto de ter ficado longe do meu filho por doze dias. Foi tudo muito tumultuado a volta para a casa. Estou chorando aqui e agora contando nossa história. Eu espero que esse relato possa ajudar outras mães que estejam passando por isso e mostrar para elas que nós conseguimos. Nós nunca achamos que vamos conseguir. Mas quando vem um problema desses, nós tiramos forças não sei de onde e conseguimos enfrentar essa situação.