A maioria das pessoas não consegue se lembrar do que aconteceu com elas nos primeiros 2 a 3 anos de vida. Entretanto, estudos da Neurociência têm comprovado que esses acontecimentos ficam guardados na memória ao longo da vida e são eles que moldam o comportamento de cada indivíduo.
Nos primeiros anos de vida, o cérebro das crianças tem uma grande plasticidade, permitindo que elas tenham uma ampla capacidade de aprender coisas novas.
Dois fatores exercem influência sobre a forma como o cérebro reage às novas informações: aspectos biológicos e genéticos (fatores intrínsecos) e o ambiente e as experiências que são vivenciadas (fatores extrínsecos). Estímulos adequados durante a Primeira Infância influenciam não apenas no funcionamento, mas na própria arquitetura do cérebro, o que pode contribuir para sua maior eficiência. O mesmo ocorre do lado negativo: a falta de estímulos, estímulos perniciosos ou inadequados trarão efeitos negativos para a arquitetura, a estrutura e o funcionamento cerebral.
Problemas de internalização, como depressão, estão extremamente ligados a eventos que aconteceram no início da vida. Estudos mostram que dificuldades enfrentadas na Primeira Infância, ou seja, até os 6 anos de idade, como doença na família, separação ou morte dos pais, mudança de bairro, entre outras, estão relacionadas à internalização de sintomas de depressão e ansiedade que geram alterações no cérebro no fim da adolescência (dos 18 aos 21 anos).
A importância das interações e do afeto
Quando o bebê nasce, o organismo e o cérebro ainda estão em desenvolvimento e isso o torna o extremamente sensível e perceptivo aos estímulos de seu entorno.
Por todas as áreas do conhecimento, tem-se defendido que o carinho é um elemento importante do desenvolvimento infantil. Isso porque ele ajuda a formar um cérebro saudável e capaz de enfrentar os desafios da vida adulta de uma maneira menos estressante.
A maior diferença entre o desenvolvimento do cérebro em uma criança e o de um adulto é que o cérebro é muito mais impressionável (neurocientistas chamam de plástico) na infância do que na maturidade. Essa plasticidade do cérebro tem um lado positivo e um negativo. No lado positivo, isso o torna mais aberto ao aprendizado e a influências enriquecedoras. Por outro lado, o cérebro torna-se mais vulnerável a problemas de desenvolvimento, caso seja influenciado por um ambiente empobrecido e desnutrido.
Por conta da plasticidade do cérebro, o recém-nascido está mais apto a construir conexões e comunicações cerebrais importantes, chamadas redes sinápticas, o que também faz dele um ser vulnerável. Quando as primeiras vivências emocionais e corporais do bebê são positivas, elas ajudam a criança a criar redes sinápticas de forma mais funcional. Dessa forma, o cuidado e as interações com os pais e cuidadores no início da vida são capazes de moldar a forma como essas redes sinápticas se formam.
Mesmo os bebês mais novos vivenciam grandes emoções e estão sempre atentos aos sentimentos dos adultos. Uma das formas que o bebê tem de desvendar o mundo é através da observação das reações do seu cuidador – e é importante que os adultos estejam cientes dessa capacidade. Eles são capazes de sorrir quando sua mãe sorri e perder interesse na brincadeira se perceberem que ela está triste ou que o adulto não está participando com ele.
Por meio de imagens do cérebro, um estudo realizado na Universidade de Washington comprovou os benefícios do amor materno para o cérebro: o hipocampo, importante área cerebral, cresce duas vezes mais rápido em crianças cujas mães demonstram afeto e apoio emocional, em comparação com as que são mais distantes e frias. Isso ocorre porque há um período crucial em que o cérebro responde mais ativamente ao apoio materno, provavelmente por conta da maior plasticidade do cérebro quando as crianças são mais novas. Ou seja, esse amor materno é ainda mais importante nos primeiros anos de vida.
Há muito já se sabe que os primatas recém-nascidos, incluindo os humanos, necessitam de interações para garantir um desenvolvimento normal. Quando essas interações sociais são ausentes na Primeira Infância, seja por privação ou experiências sociais inapropriadas, os resultados podem aparecer em doenças físicas ou emocionais, incluindo comportamentos antissociais.
Pesquisas mostram que as crianças que se desenvolvem bem apesar de enfrentar adversidades têm, em geral, uma relação próxima, estável e comprometida com pelo menos um adulto atencioso. Essas relações amortecem as crianças de uma possível interrupção no seu desenvolvimento e as ajudam a construir sua resiliência, ou seja, o conjunto de habilidades necessárias para responder à adversidade e continuar a se desenvolver.
Fonte: Radar da Primeira Infância
Texto Disponível: http://radardaprimeirainfancia.org.br/por-onde-comecar/neurociencia/
Imagem disponível em: Ceará cresce brincando