Os discursos duplo vinculares sobre Amamentação na nossa Sociedade

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A relação de amamentação é pautada, em nossa sociedade, por discursos essencialmente duplo vinculares.

Na Psicologia Sistêmica o conceito de DUPLO VÍNCULO (Bateson, 1956) nos ajuda a compreender dinâmicas paradoxais da comunicação humana. O duplo vínculo acontece, muito resumidamente, quando uma pessoa recebe de seu(s) interlocutor(es), ao mesmo tempo, mensagens contraditórias entre si, de tal forma que ele se vê em um impasse, impossibilitado de responder de forma satisfatória. Esse processo, quando acontece repetidamente, é capaz de gerar um nível profundo de confusão mental e emocional ou até mesmo comprometer a saúde psíquica, nos casos mais graves, dentro das relações familiares em que o duplo vínculo acontece entre mãe, pai e filho(a).

Mas aqui eu estou trazendo essa teoria da terapia de família para as relações sociais e para a comunicação que acontece entre rede social, cultura e indivíduo, nesse caso, a mãe que amamenta. 


A mulher que se torna mãe em nossa cultura se vê diante de um mundo que diz a ela que a maternidade e a amamentação são uma série de coisas, geralmente inconciliáveis.

Se formos revisitar o que se escuta sobre amamentar e ser mãe nos contextos mais diversos, podemos reconhecer infinitas situações em que a mulher se vê diante de mensagens contraditórias capazes de gerar desamparo, solidão e sensação de inadequação e culpa materna…

Amamentar é um ato de amor. [Mas bebês que mamam podem ficar muito dependentes. Dormir com o bebê e deixar no colo podem estragar seu filho]

O leite materno é o melhor alimento para o bebê [Mas veja como as fórmulas novas são uma tecnologia maravilhosa! se está desafiador, deixa pra lá, o aleitamento artificial nem faz diferença de fato, só mesmo pras classes mais vulneráveis…]

Amamentar é natural! [Mas se você quiser amamentar e estiver entre a maioria das mulheres que têm questões difíceis, especialmente no estabelecimento da amamentação, dificilmente encontrará orientação profissional adequada, a não ser que busque em contextos específicos de profissionais que apoiam o aleitamento]

Amamentar enquanto estiver bom para a mãe e o bebê é o ideal! [Mas nossa, que mãe desnaturada aquela que preferiu desmamar só por questões dela!]
A amamentação deve ser exclusiva até os 6 meses. [Mas você tem que voltar ao trabalho aos quatro, de repente é até bom que ele comece a comer antes.]
O bebê deve mamar em livre demanda. [Mas bebês podem ser manipuladores e fazer o peito de chupeta]
A amamentação deve ser até os dois anos ou mais [Mas ele ainda mama?!!!]
A maternidade é a maior benção que uma mulher pode viver [Mas você terá que embalar Mateus sozinha por que o pariu e na hora de fazer foi bom]
Que bom que ele está mamando bem e ganhando peso![Mas nossa, esse bebê está viciado no peito! Você não vai ter vida!]
Amamentar é um ato belo, veja nessas campanhas, como é lindo! [Mas cubra esses peitos porque ainda existem lugares públicos em que uma mulher pode ser constrangida por estar amamentando como se fosse um ato obsceno e desrespeitoso com os outros.] .

Em uma fase de tanta vulnerabilidade

Em que as tarefas existenciais que se apresentam demandam tanto da mulher, física e emocionalmente, em que uma nova identidade está em formação, com todos os lutos e inseguranças que isso implica, faz toda a diferença que possamos apontar esses ardis em que a cultura enreda as mães e bebês.
Porque ainda que se leve tempo para transformar a realidade sócio-cultural, ganhar consciência sobre os seus funcionamentos e mecanismos de controle de nossas crenças e comportamentos, nos liberta, em algum nível para não internalizarmos o problema.
Para não acharmos que somos nós as mães que não dão conta e falham cotidianamente. Para construirmos escolhas com mais autonomia, escolhas cheias de sentido para nós, mais conectadas com nossos valores.
Porque por trás dos peitos, existimos nós, as mulheres. E não há como existirem mulheres e mães que sejam boas o suficiente para essas expectativas que nos condenam a fracassar, independentente do que escolhermos. Essa é a maternidade do impossível que gera enlouquecimento, culpa, isolamento.

Não, obrigada. Não somos obrigadas.

por Daniela Leal , psicóloga, terapeuta de Casais, coordenadora de grupos terapêuticos relacionados à maternidade, especialista do Instituto Aripe e está nos Cursos Jornada Terapêutica para Casais e Psicologia do Puerpério.

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Para profissionais que já trabalham com gestantes, parturientes e puérperas, estudantes das áreas de saúde, educação e ciências humanas, como formação complementar, já que é um tema quase nunca exposto nos cursos de graduação como conteúdo básico.

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