Por Fabiana Xavier
Quando uma filha vira mãe, a mãe da mãe revive sua própria maternidade.
É dentro desse reviver da maternidade, a nova avó entra em contato com os seus buracos da própria infância, na sua relação com a própria mãe.
O nascimento de um bebê traz consingo o nascimento de toda uma nova ordem e estrutura dessa família. Surgem papéis que antes não existiam. Não importa quantos filhos ou netos tenhamos. Cada experiência é única e é vivida de forma inédita com aquele indivíduo.
[Veja também esse vídeo do Alexandre sobre essa relação]
A nova mãe precisa aprender a submergir no seu campo emocional.
Mesmo quando o parto foi satisfatório. As experiências de cuidados com o bebê são bem vívidos. Essa nova mãe experimenta um momento de suspensão da realidade concreta. Podemos dizer que há um enlouquecimento momentâneo dessa mãe.
É através desse enlouquecimento que a mãe se fusiona ao bebê. E se torna capaz de atender as suas demandas.A transformação psíquica da mãe é fundamental para a construção da maternidade.
Nesse momento a mãe da mãe se torna avó.
Ela tem a possibilidade de reviver a sua experiência de maternidade e da própria infância. E não é fácil para essa mulher perceber os buracos e falhas que ficaram em suas experiências infantis e maternas.
Se deparar com uma filha frágil, que precisa de cuidados e de apoio não é fácil para as avós. Pois elas se deparam com as próprias fragilidades e se confundem com as filhas.
A avós precisam se dar conta das suas próprias fragilidades para poder seguir em frente e se colocar como coadjuvante na maternagem da filha.
Um processo invisível, em que os papéis de avó, mãe e filha se misturam.
A falta de clareza nesse momento, pode gerar desconforto e atritos entre a mãe e a recém mãe.
Algumas filhas se sentirão ameaçadas pela presença da mãe. A sabedoria da mãe pode ser um fator de estresse, ter a mãe, uma outra mulher querendo exerce autoridade sobre essa nova mãe. Dizendo o que fazer com o bebê, pode ser angustiante. Essa nova mãe está fusionada e precisando encontrar as suas próprias formas de solucionar as questões trazidas por essa maternidade.
Por outro lado, a avó acha que a melhor ajuda é com o neto. Quando na verdade, quem precisa de ajuda e escuta é a filha. Pode existir um desencontro amoroso na relação.
O encontro com a ancestralidade é muito comum na nossa cultura, é muito esperado que as filhas recorram ao auxilio das mães ou das próprias avós nos primeiros cuidados com o bebê.
O Puerpério trás a essa mulher uma fragilidade que ela nunca experimentou. Às vezes surge um sentimento de incapacidade nos cuidados com o bebê, gerando ansiedade.
Algumas avós se sentem muito angustiadas e querem resgatar as filhas da imagem de sofrimento.
A possibilidade de uma nova relação entre mãe e filha é incrível.
Quando as duas se colocam à disposição de um novo encontro emocional, a relação fica mais intensa e amorosa.
As avós precisam ter um olhar de escuta para essas recém mães. Por outro lado, essa recém mãe precisa reverenciar a mãe e ter uma gratidão emocional pela vida que lhe foi dada.
A relação da mãe com a recém mãe é um encontro manifestado no desencontro amoroso.
A possibilidade de renovação acontece na consciência dos papéis a serem vividos.
Se permita a viver a renovação de afetos!
[Assista aqui vídeo do Alexandre sobre o que ganhamos quando abraçamos esse mistério]
Fabiana Xavier, psicóloga, aluna do Curso de Psicologia do Puerpério do Instituto Aripe.