Ambivalência de sentimentos
As surpresas podem ser boas ou ruins. Depende de como a pessoa vai significar/adjetivar a experiência. Na grande maioria das vezes, quando a mulher recebe a notícia de uma gravidez e não está esperando por isso, ela passa por um tempo de reflexão muito profundo se ela quer ou não ter esse bebê.
Embora, toda a gravidez passe por essa reflexão de ambivalência “será que é o momento de ser mãe?”. Quando a gravidez não é planejada as reflexões aparecem de forma mais aguda e intensa.
Planejamento de carreira e planejamento familiar
Vamos então fazer um percurso na linha do tempo da vida dessa mulher. Uma mulher adulta, que está fazendo faculdade, aparece grávida do namorado. Uma questão que aparece para essa mulher é “como eu vou fragmentar a construção da minha carreira, do meu projeto de vida adulta, com a chegada desse bebê?”.
Porque nós sabemos o peso que uma mulher da nossa sociedade tem. Muito maior que o do homem, em relação à disponibilidade emocional, de tempo e afetiva para o cuidado de uma criança. Então, ela sabe que vai precisar fazer esse parênteses na vida dela, de tudo que havia planejado, para cuidar bem dessa criança.
A decisão de ter um bebê nesse momento envolve todo um planejamento de carreira e de família. Às vezes, também envolve uma pergunta sobre a maturidade da relação dela com o parceiro. Se vem de uma relação que já está madura o suficiente para sobreviver a chegada de uma criança ou não. Enfim, todas essas questões aparecem para essa mulher nesse momento.
Autonomia feminina
Essas questões têm muito a ver com o conceito de autonomia feminina. Em que as mulheres não precisam ser ajudadas de forma superprotetora para decidir sobre suas vidas. Pois elas tem a capacidade de se interiorizar e de tomar decisões por si só.
Porém, nós ainda não conseguimos apoiar essas mulheres que fazem uma construção de identidade diferente daquela que a família nuclear imagina. A filha tem que sair da casa do pai para construir um casamento e depois de um tempo de casamento construir a primeira maternidade.
Qualquer alternativa diferente do modelo de família tradicional gera desafios. A nossa sociedade ainda é muito conservadora e olha com olhos de muito reparo. Então, nós precisamos ampliar isso. porque são histórias de vidas muito possíveis. Totalmente legítimas. E que podem construir relações lindíssimas entre mães e filhos.
Pois a surpresa de uma gravidez não desejada, não necessariamente vai construir um dilema muito longo na cabeça e no coração dessa mulher. Pode ser que depois de um tempo curto ela diga “eu quero ter esse filho”. E embarque nesse processo com a mesma força de outra mulher que já desejada ter um filho.
O filho é sempre uma surpresa
Então, não é verdade que uma mulher que receba a surpresa de uma gravidez não planejada vai ter mais dificuldade de se ver no papel de mãe do que outra que já planejava ser mãe. Porque a maternidade é desafiadora independentemente do contexto em que apareça. Dessa forma, todas as mães e todos os pais vão sentir desafios que não estão previstos. O filho é sempre uma surpresa!
A gravidez não planejada pode ser apenas a primeira surpresa com que essa mulher vai se deparar ao longo de toda uma trajetória dela com esse filho. Estejamos próximos desse estranhamento que o filho nos provoca. Ele nunca é aquilo que nós imaginamos. Essa gravidez que começa como um estranhamento pode ser uma bela metáfora da construção de toda essa relação da mãe com o filho.
Estranhemo-nos aquilo que nós imaginamos que é previsível. Isso vai ser uma forma de nos conectarmos de forma mais verdadeira com nossa experiência!
por Alexandre Coimbra Amaral, psicólogo, terapeuta familiar e de casais; fundador do Instituto Aripe e está conduzindo o Curso de Psicologia do Puerpério.
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Para profissionais que já trabalham com gestantes, parturientes e puérperas, estudantes das áreas de saúde; educação e ciências humanas, como formação complementar, já que é um tema quase nunca exposto nos cursos de graduação como conteúdo básico.
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