Existe um elemento relacionado ao acompanhamento do parto, que é pouco falado, pouco olhado.
Um elemento que eu costumo chamar de campo do parto.
Quando o assunto é assistência ao parto, nosso olhar normalmente fica focado na técnica e em como a gente pode auxiliar com métodos não farmacológicos para alívio da dor.
Mas sinto que nós, temos também um lugar de sustentar o campo. E embora eu acredite que toda a equipe tenha esse papel, sinto que a doula tem esse lugar de manter a coesão do campo.
A coesão entre a equipe, o casal e a família.
Porque quando abre uma atmosfera de nascimento, existe uma egrégora energética que é criada.
E uma coisa que eu percebo, é que quando a gente não sustenta esse campo, vaza potência e a gente acaba perdendo algo muito precioso.
Eu lembro de um atendimento que realizei onde a gestante sinalizou não se sentir segura na casa dela, desejando a remoção para o hospital.
Acabamos indo para o hospital, esperando que lá o processo encontraria a sua evolução.
Mas chegando no hospital, mesmo com tudo preparado para aquele momento, com banheira, luz baixa, música gostosa, AROMA de lavanda, presença do companheiro que seguia com ela dentro da banheira, o parto não evoluia.
Senti o tempo todo uma energia vazando, mas não conseguia decifrar, pois parecia que estava tudo bem.
Somente na consulta de pós parto, conversando com ela que entendi o que tinha acontecido.
Na equipe técnica daquele parto, tinha uma sobrinha da gestante que estava mandando informações para a mãe dela, que estava fora do campo.
A mãe, obstetra tradicional, preocupada com a filha direcionava para a sobrinha perguntas sobre o expulsivo, sobre a demora, sobre toda a preocupação que ela estava sentindo do lado de fora.
Existia essa comunicação que nenhuma de nós estava sabendo.
É o campo do parto, que quando não preservado, perde potência.
Essa memória, me trouxe a certeza da dimensão da importância que esse cuidado com o campo deve ganhar.
Que passa pelo ambiente, pelos vínculos e pela comunicação com quem está dentro e com quem está fora.
No parto, existe a dinâmica hormonal e existe a dinâmica do campo da mulher; que precisa se expandir durante o processo.
Mas para ele se expandir, é necessário oferecer segurança para aquela mulher.
O campo não pode vazar.
Nós, como profissionais da assistência ao parto, podemos dar mais atenção a esse elemento a esse lugar do campo; que parece muito subjetivo, muito “haribo”; mas quando a gente começa a prestar atenção; ele é bem concreto e auxilia muito no fluxo do trabalho de parto.
Maíra Duarte – Terapeuta Ayurveda, doula e educadora perinatal.