O Retorno ao Trabalho

Chegou o momento de voltar para o trabalho

Hoje no nosso diálogo sobre puerpério vamos abordar a volta ao trabalho. Geralmente, o retorno ao trabalho acontece depois de quatro meses de licença maternidade. Em algumas situações, essa licença pode ser estendida até seis meses. Algumas pessoas juntam com mais um período de férias. Ou ainda pessoas que tem uma atividade profissional mais livre se dão um pouco mais de tempo.

Mas, quero falar sobretudo para você que está sujeita à Legislação Brasileira. E que tem apenas quatro meses para viver essa fusão com o seu bebê. Depois de quatro meses você já está muito mais adaptada ao ritmo do bebê. A forma dele se vincular, a amamentação, etc. Ou seja, todo o contexto da sua relação com ele está mais tranquilo, sólido e íntimo.

E chegou a hora de ir embora. É a hora de deixar esse bebê e esse núcleo que te fez tanto sentido. Esse encontro que te renovou, que te fez renascer para você mesma. Esse encontro que agora tem tanta fruição depois dessa fase inicial de ajuste. E é o momento de ir embora.

A dor da mulher

Esse é o momento que muitas pessoas compreendem. Mas não se conectam emocionalmente com o tamanho da dor de uma mulher que tem que deixar seu filho em casa. Não é difícil entender o quanto esse retorno para o trabalho pode ser doloroso. Essa mulher passou nove meses fusionada corporalmente com o bebê. E depois quatro meses fusionada no encontro cara a cara, pele a pele, coração a coração.

Mas é só você que está vivendo, acabou de viver ou está prestes a viver que consegue entender o que eu vou dizer. A fusão com o seu filho deveria ter um mundo que te entregasse a possibilidade de vivê-la por muito mais de quatro meses. O nosso mundo merecia mães que pudessem ficar com seus bebês muito mais que quatro meses.

O que você está vivendo é um grande luto

Porque é nesse momento de volta para o trabalho, que você chega lá na sua empresa, por exemplo, com a cabeça baixa e um pouco menos produtiva. E vão te dizer o tempo todo: “é duro, mas aqui temos que produzir. Você precisa dar o seu melhor, não tem jeito. Aqui estamos para trabalhar, preciso de você inteira”.

Nesse momento, vem um monte de frases de efeito dizendo que você tem que deixar seus problemas do lado de fora. Que na empresa você tem que ser profissional. E essas frases feitas não te ajudam, não fazem sentido para você. Porque o que você está vivendo é um grande luto. Uma sensação enorme de perda.

Perda daquele tempo em que você podia simplesmente estar com o seu filho. Sem a preocupação de deixar o tempo do relógio contar. E dizer quanto tempo você poderia se conectar com ele por dia. Essa é uma das dores: você passa oito horas no trabalho e depois chega em casa para passar muito menos tempo com o seu bebê.

Muitos bebês compensam o reencontro com a mãe nessa fase nas noites em claro. Às vezes, eles acordam mais durante a noite depois que a mãe volta a trabalhar. Porque eles querem estar com ela, sentir a mãe e até ficam acordados brincando com o peito. O que pode ser delicioso naquele momento. Mas também desesperador, porque na manhã seguinte você tem que estar de volta ao trabalho.

Compreensão empática com esse momento da mulher

Precisamos construir uma cultura nas organizações que tenha mais compreensão empática com esse momento da mulher. Porque na hora que você chega no seu trabalho, o mínimo que você precisa é ser compreendida nas suas necessidades emocionais.

Que tem a ver, por exemplo, com o estabelecimento de uma possibilidade de você amamentar o seu filho. Ou de sair um pouco mais cedo. Ou de alguém levar o seu filho para você amamentar, se ainda estiver fazendo amamentação exclusiva até os seis meses, como recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

E também tem a ver com a abertura de um tempo para você refletir. Conversando com alguém sobre seus processos. Mesmo que seja conversar com alguém em uma pausa breve, para esvaziar um pouco o que você estiver sentindo. Porque você terá acabado de sair de uma situação em que você era inteira para o seu filho.

E durante algum tempo você vai ficar dentro do seu espaço organizacional se perguntando assim: onde é que eu coloco agora aquela concepção que consegui desenvolver com todo meu corpo, sobre entrega, nutrição e cuidado? Onde coloco todas essas minhas emoções?

O retorno ao trabalho é um dos momentos mais delicados de todo o processo do puerpério. E que exige mais do mundo externo para poder transformar a visão sobre o que você e o seu bebê sentem.

por Alexandre Coimbra Amaral, psicólogo, terapeuta familiar e de casais; fundador do Instituto Aripe e está conduzindo o Curso de Psicologia do Puerpério.

O curso online “Psicologia do Puerpério” é para quem tem vontade de conhecer com profundidade, a psicologia perinatal, o processo emocional da mulher, do bebê, da díade formada entre a mãe e o seu filho, da família e das pessoas em torno da grande novidade que é o nascimento de um bebê.

Para profissionais que já trabalham com gestantes, parturientes e puérperas, estudantes das áreas de saúde; educação e ciências humanas, como formação complementar, já que é um tema quase nunca exposto nos cursos de graduação como conteúdo básico.

Saiba mais em: https://aripe.com.br/psicologia-puerperio/

O Instituto ARIPE é uma plataforma de cursos online de aperfeiçoamento e aprofundamento profissional de psicologia; cursos complementares e educação continuada a distância para psicólogas (EAD), psicanalistas, terapeutas individuais, psicoterapeutas, psicopedagogas e interessados pelos assuntos.

Autores

Nuvem de tags

Posts recentes

Respostas de 2

  1. Fui mãe aos 20 anos e agora aos 40 estou grávida novamente, e realmente a volta ao trabalho é um momento muito difícil, eu chorava junto com minha filha na hora de ir trabalhar, sentia dificuldade em confiar nas babás , dificuldade em concentrar no trabalho, pegar atestado pra levar o bebê ao médico sem que os colegas de trabalho me olhassem torto. Mas com a graça de Deus consegui amamentar 2 anos e 11 meses. Agora no auge dos 40 anos estou mais preparada pra enfrentar essas dificuldade, a diferença é que aos 20 anos eu sofria pressão pois trabalhava em escritorio particular e agora sou professora concursada e tenho um horário mais flexível e estabilidade no emprego.Desejo boa sorte à todas mamães, e deixar meus parabéns à você Alexandre e à toda equipe do Instituto Aripe.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *