A adoção é uma decisão de vida
A adoção é muito mais do que um ato altruísta de amor benevolente, como nossa cultura judaico-cristã nos coloca.
A adoção é uma decisão de vida. É um projeto de vida. Que envolve antes dela acontecer, em muitos casos, uma sensação de falência. Que acontece porque você não se sentiu capaz de gerar um filho por qualquer circunstância biológica ou emocional. Ou, porque você sentiu que não chegou a hora ainda de ter um parceiro ou uma parceira com quem você decidisse ter um filho biológico. Então, na grande maioria dos casos, a adoção nasce de uma falta e de uma ausência.
É muito importante falarmos disso porque no Cadastro Nacional de Adoção, a forma legalizada como acontece a adoção no Brasil, quem chega para adotar um bebê ou uma criança tem que contar sua história pessoal anterior à adoção. Dizendo o por quê gostaria de ter um filho adotivo. Essa história inicial é levada em conta. E faz parte da história do filho que você vai receber.
Belezas e desafios da maternidade adotiva
Quando você recebe seu filho adotivo nos braços, você passa por um dilema social e familiar que envolve um preconceito da qualidade do seu amor por seu filho. O amor que você vai desenvolver pelo seu filho é o mesmo amor que a mãe biológica desenvolve pelo filho biológico. A psicanálise nos diz que todos os nossos filhos são adotados. Porque quando recebemos um filho biológico nos braços, ele é diferente do filho que imaginamos que seria. Então, precisamos adotar o filho real nas nossas vidas.
Dessa forma, se todos nós passamos por esse processo de adotar um filho, você não é diferente das mães que gestam os filhos em suas barrigas. Nós, do Instituto Aripe, queremos dialogar com vocês, mães adotivas. Incluir vocês como parte da necessidade, da visibilidade e da beleza da maternidade adotiva. E de todos os desafios que ela traz. Alguns particulares à maternidade adotiva e outros comuns a qualquer tipo de maternidade.
A maternidade adotiva traz para o entorno do filho uma consciência de que não são somente os laços consanguíneos que constroem essa relação potente entre mãe e filho, entre pai e filho.
Se ampliarmos a nossa percepção sobre adoção para além das relações paternas e maternas, percebemos que durante a nossa vida nós aprendemos a adotar algumas pessoas. Nós adotamos amigos, por exemplo, quando dizemos “amigos-irmãos”. Nós vamos adotando pessoas, como avós de amigos, professores, pessoas queridas, entre outras. A adoção é um fenômeno muito ampliado em nossa existência. Precisamos desconstruir a ideia de que esse vínculo se dá somente no círculo entre mães, pais e filhos.
A gestação de um filho adotivo é por tempo indeterminado
Portanto, quando acontece a escolha pelo filho adotivo, a gravidez é diferente de uma gravidez biológica porque ela não tem data para terminar. A grávida de um filho adotivo não sabe em quanto tempo esse filho estará nos braços dela.
Isso traz um desafio para os casais, porque na hora que o filho chega pode ser que o casamento esteja em uma condição muito diferente em que estava quando a decisão da adoção foi tomada. O casal pode estar vivendo uma crise. Ou estar passando por dificuldades financeiras. Ou também podem estar afastados da ideia da maternidade e paternidade. Alguns casais, inclusive, chegam a desistirem da adoção e então quando o filho chega eles são pegos de surpresa. Há outras formas de adoção também que são aqueles casais, pais ou mães que se encantam com a criança e sentem que foi a própria criança que o adotaram.
Legitimar a maternidade e a paternidade adotiva
São cenas tão lindas e belas que vão construindo esse fenômeno da adoção que precisamos falar sobre isso nas ruas. Precisamos falar sobre, escutar essas histórias e nos abrir para incluirmos a maternidade e a paternidade adotiva da mesma forma como incluímos a legitimidade da maternidade e da paternidade biológica.
Uma das coisas que eu considero importante que nós também possamos falar é sobre as dificuldades com os filhos adotivos. Obviamente, uma criança que já viveu um abandono vai passar um tempo com dificuldade de adaptação àquele lar. Uma ambivalência de sentimentos. Porque ao mesmo tempo em que deseja imensamente ter uma família, o maior desejo dessa criança é ter a certeza de que não será abandonada novamente. Há crianças no Brasil que são devolvidas depois da adoção, duas, três vezes. Porque a nossa lei prevê que as crianças podem ser devolvidas em até noventa dias.
Então, às vezes, o período da adaptação dessa criança é mais longo que noventa dias. Isso causa um impasse. Ficamos com a pergunta: como nós reagimos às dificuldades de adaptação de um filho adotivo? Essa é uma questão ética, afetiva e precisa ser discutida.
A adoção é um processo de produção de amor
Portanto, a adoção é um aprendizado para todos nós, para todo o tecido social. A adoção não é reprodução como a maternidade e paternidade biológicas. Nós nos enredamos com essa palavra, achamos que estamos criando através da reprodução biológica uma pessoa parecida conosco, uma pessoa que tem que responder as nossas projeções.
A adoção é um processo de produção de amor. Salientemos, então, essa produção de amor nos corações de tanta gente que adota nesse país. Em torno de nós existem muitas histórias que precisam ser narradas, contadas e escutadas com a força dos nossos corações. Sejam bem-vindas vocês também aos nossos diálogos, mães adotivas desse país!
por Alexandre Coimbra Amaral, psicólogo, terapeuta familiar e de casais; fundador do Instituto Aripe e está conduzindo o Curso de Psicologia do Puerpério.
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Para profissionais que já trabalham com gestantes, parturientes e puérperas, estudantes das áreas de saúde; educação e ciências humanas, como formação complementar, já que é um tema quase nunca exposto nos cursos de graduação como conteúdo básico.
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Respostas de 2
Pode entrar em contato comigo, aceito ser parte de uma entrevista. lendo esse artigo fiquei lembrando quantas vezes disse para meu bebê, vem com a TITIA.
Sou mãe adotiva em uma adoção tardia. 6 anos. Podemos falar querido.