Quando amamos alguém, ou mesmo queremos bem alguém, procuramos conhecer seus gostos, suas vontades e suas necessidades. E sem que represente um sacrifício, tentamos corresponder aos anseios e desejos da pessoa querida. Tentamos nos mostrar interessados em seu bem estar e em sua felicidade de mil maneiras muito pessoais. Levamos para jantar no restaurante preferido, levamos em shows e passeios que agradem.
Para facilitar a reflexão, e evitar distorções desnecessárias, aviso que neste texto estou falando de relações saudáveis, onde o carinho e atenção são recíprocos, onde não há abuso de um lado, nem baixa autoestima de outro.
Apenas me pergunto as razões disso ser plenamente aceitável quando se trata das relações entre adultos, mas quando se trata de amar nossos filhos pequenos, a regra não vale…
- Bebês são mais simples que os adultos, não precisam de presentes, não precisam de eventos elaborados, não precisam de declarações rebuscadas.
- Bebês entendem que são amados através do abraço, do toque, do peito, do colo. Se um bebê chora precisando de colo, não vai ser o suficiente acenar de longe dizendo que estamos ali. Se um bebê chora precisando de peito, não vai ser o suficiente ficar por perto repetindo que o amamos, com voz branda e mantendo-nos calmos e tranquilos.
Os profissionais e as pessoas em geral precisam parar de recomendar que mães e pais neguem colo para seus bebês e crianças.
As pessoas precisam parar de recomendar que mães neguem peito como forma de consolo para seus bebês e crianças. Não entender o papel da amamentação, do colo, do contato físico na formação de uma base emocional forte e saudável da criança é estar, além de limitado, ignorante de muitos estudos a respeito do assunto.
Amamentação é nutrição física e também emocional. Colo é nutrição emocional e psíquica. É cruel, ignorante e perigoso negar que uma criança se sinta amada do jeito que entende: através do peito, do abraço, do contato físico, do colo.
E vamos deixar tudo bem claro para não haver más interpretações: não me refiro a situações em que pode ser impossível amamentar ou pegar no colo, não me refiro a situações em que a própria criança não deseja ser tocada ou embalada.
Refiro me às situações em que deliberadamente, sem nenhuma necessidade real, se aconselha que mães e pais neguem para bebês e crianças aquilo que é plenamente possível ser oferecido; às situações nas quais, sem nenhuma razão verdadeira, se nega carinho, afeto e aconchego do jeito que um bebê pode compreender.
Vários são os pretextos para que se indique a negação do afeto: preparar a criança para vida, treinar para que durma, treinar para que obedeça, “educar”, castigar.
Percebam que a privação do afeto é usada tanto como desculpa para “educar” quanto para punir.
A natureza dúbia deste recurso já deveria ser o suficiente para que relutássemos em aceita-lo. A privação do afeto é usada para manipular, chantagear e amedrontar. O amor e o afeto dos pais ficam condicionados a um suposto “bom comportamento” por parte do bebê ou da criança, que na maioria das vezes ainda nem consegue compreender o que está sendo esperado ou exigido dela.
Geralmente os pais não se sentem confortáveis em aderir a este tipo de recomendação, muitas vezes os pais estão passando por alguma situação em que já esgotaram seus próprios recursos para solucionar a questão, e cedem mediante previsões nada boas sobre o futuro dos filhos, que, segundo muitos profissionais, se tornarão mimados e dependentes.
Os pais são estimulados a negarem afeto aos filhos como forma de se mostrarem firmes e fortes. Aqueles que não seguem as recomendações são taxados de manipulados e fracos.
A verdade é que não se prepara uma criança para a vida através de lições que deixam a mensagem de que ela não pode contar com as pessoas em quem mais confia, nos momentos em que mais precisa.
Não se educa através do medo de perder o amor. Não se fortalece uma pessoa abalando suas bases emocionais com negativas de carinho e segurança.
- Não precisamos negar ajuda, afeto e acolhimento para nossos filhos pequenos por medo de não prepara-los bem para o futuro.
- Não precisamos criar momentos de frustração e batalhas, que servem apenas para desgastar a família e destruir o vínculo entre pais e filhos.
- Não precisamos negar ou privar nossos filhos de afeto sem necessidade. Todo o tempo surgem frustrações e situações em que realmente a negativa é necessária e verdadeira.