Um Recado Para o Pai

Minha conversa hoje é com você, pai. Pode ser que seja a primeira conversa em que você seja chamado para olhar diretamente para a sua mulher de outra forma. Seja bem-vindo!

Quem é a nova mulher que está ao seu lado?

Hoje o tema é o pai. Por que esse tema é tão diferente do que normalmente podemos pensar? O convite que queremos fazer é para uma reflexão sobre quem é a nova mulher que está ao seu lado.

Você que é pai, que acabou de receber um bebê nos braços, seja em um parto domiciliar ou um parto hospitalar ou uma adoção, não importa, quando recebemos os nossos filhos nos braços é que a coisa se realiza. Porque a nossa gravidez é externa. Nós ficamos do lado de fora tentando entender aquela conexão com o bebê.

Podemos ter um exercício profundo de empatia com a mulher. Mas, muitas vezes, desde a gravidez, a mulher sente que nós não sentimos. E é verdade, a gente não sente como ela sente.  E isso pode afastar o casal em muitos momentos. Porque a mulher não vai sentir compreendida nas suas emoções.

Então, é normal que nós vivamos um descompasso em relação as nossas companheiras sobre a vinculação com os nossos filhos. Por isso, o convite aqui é para você olhar ela. E depois no final falarei sobre você, de como é que você deve estar sentindo essa situação.

Qual é a cena desse momento?

Você abre a porta do seu quarto e vê sua esposa entregue a uma fusão com o bebê. Fusão essa que é super demandante, que promove uma exaustão física e emocional por conta da intensidade do cuidado. A sua esposa se transformou nos últimos tempos em uma grande nutriz. Ela alimenta com o leite, ela alimenta com o olhar, ela alimenta com amor, ela alimenta com as lágrimas, ela alimenta com medo. Todas essas emoções estão fazendo parte de um reconhecimento profundo do seu bebê com ela.

O filho de vocês está entendendo quem é essa mãe agora do lado de fora. Ele já conviveu lá dentro do útero com todas essas emoções dela, ele já conhece alguma coisa disso. Mas agora é uma nova fase. E é uma fase que exige um trabalho intenso de reconhecimento das duas partes. Mas, sobretudo para a mãe, ela precisa de tranquilidade porque a tarefa já é muito exaustiva.

O papel do pai

O mundo não pára para podermos nutrir os nossos filhos. Para aprendermos a criar os nossos filhos. O mundo não pára, a vida continua. Enquanto ela está cuidando do bebê, as coisas continuam acontecendo.

Por exemplo, pode ser que alguém da família esteja doente. Pode ser que vocês estejam vivendo uma crise financeira;  que acabou de acontecer alguma tragédia natural, um deslizamento de terra na rua em que vocês moram; ou que vocês precisem abrigar alguém da família na casa de vocês justamente nesse momento que já tem um filho chegando. Enfim, a vida não vai parar. E você pai, é a pessoa que nesse momento da vida da sua mulher, do seu filho e da sua família, merece ser o guardião da tranquilidade.

Imagine como se sua mulher e seu filho ficassem melhores se você pudesse construir em volta deles uma bolha protetora dessas interferências externas. O máximo que você puder fazer para que a sua mulher e o seu filho possam se entregar a essa fusão, vai ser melhor para eles. Eles vão ficar melhores acomodados nesse encontro que precisam ter de um com outro. O nosso papel nesse momento do puerpério é permitir que esse encontro seja o mais profundo e o mais genuíno possível.

O homem como coadjuvante 

E aí você pode me dizer: “Mas Alexandre, quando eu entro no meu quarto é como se eu não tivesse lugar, é como se não tivesse lugar para mim”. E é verdade, em muitos momentos a gente não tem o lugar que gostaríamos de ter. Nós, homens, estamos acostumados a um lugar de muito protagonismo na vida. Em uma sociedade machista que se estabelece desde que o mundo é mundo, um homem sempre se coloca em um lugar central e primário, e a mulher fica atrás.

Aqui estamos falando de uma cena em que a natureza chama o homem para se enxergar em um lugar de resto. Esse é o nosso lugar nessa cena do puerpério. Quem importa para o bebê é a mãe. Aliás, o que importa para o bebê é o peito. A mulher quando está com o peito rachado, por exemplo, tenta acalmar o bebê no colo e não resolve, não lhe serve isso. Ele só quer saber do peito. A profundidade desse encontro não nos representa em muitos momentos. E a mulher e o bebê precisam dessa tranquilidade.

Há muitos lugares para irmos construindo nossa conexão com o bebê. Há momentos em que iremos sentir esse espaço livre para podermos entrar e ir desenvolvendo esse vínculo. Porque, de fato, o bebê vai precisar do pai bem mais lá na frente. O papel que fazemos no início na vida de um bebê é um papel que qualquer cuidador poderia fazer. O papel da mãe não, esse é fundamental e crucial.

Olhe para sua mulher 

Se você está muito ansioso porque sua mulher desapareceu e você não reconhece mais nessa mulher que está dentro do seu quarto aquela esposa que você tinha, a primeira coisa que eu quero te dizer: é verdade! Ela não está mais ali. Ela está se transformando em uma outra pessoa que nesse momento ela ainda nem sabe quem é.

Então, tolerância, paciência, respira fundo. Se estiver muito difícil para você fecha a porta do quarto e vá fazer outra coisa que seja útil para esse sistema se organizar melhor e volte em outro momento. Você vai ver que inclusive a conexão entre vocês dois como casal vai se restabelecer mais rapidamente.

Porque uma das maiores satisfações de uma mulher nessa fase é sentir que o companheiro está conseguindo se conectar com as necessidades dela. É uma fase que a mulher fica muito invisível, todo mundo olha muito para o bebê. Você é uma das pessoas que sempre olhou para ela.

Continue olhando para ela, presta atenção nas necessidades mais profundas que ela não está conseguindo te pedir. Mas, que a intimidade de vocês dois pode fazer você construir na sua cabeça uma legenda “eu sinto que ela está precisando disso”. Você pode fazer uma pequena surpresa para ela, um agrado, um mimo, um carinho que possa devolvê-la a uma sensação de cuidado que é muito necessário, porque ela está sentindo que é só a cuidadora.

Conexão entre pai e bebê

E ao lado disso, você tem o seu direito de conectar com o seu filho. Ele também é seu. Você terá o seu tempo. Se você sentir que ela não está disponibilizando para você esse espaço; porque ela só quer que seja do jeito dela e acha que você não tem a habilidade necessária, esse é um outro papo que teremos daqui um tempo.

É útil para o casal que um veja o outro se adaptando a essa chegada do bebê. E o bebê tolera que nós sejamos inábeis. O bebe constrói junto com a gente, ele vai dando sinais de como ele quer ser tratado e cuidado. Nem a mãe, nem o pai, saberão de antemão. Se o pai não tiver o direito de fazer os testes dele para ir se adaptando, ele também não vai criar intimidade.

Então, se você está sentindo essa dificuldade de espaço com a sua esposa, isso pode ter relação com a forma de como vocês são enquanto casal. Talvez seja a hora de reavaliar e conversar sobre isso. Mas, certamente, é o momento frutífero para você exercitar coisas muito novas na sua forma de se relacionar com a mulher que você escolheu e com o bebê que chegou para você.

Seja muito bem-vindo a esse novo mundo que te pertence. Que pertence a esse encontro com o seu filho. E que vai fazer de você também um novo homem.

por Alexandre Coimbra Amaral. psicólogo, terapeuta familiar e de casais; fundador do Instituto Aripe e está conduzindo o Curso de Psicologia do Puerpério.

O curso online “Psicologia do Puerpério” é para quem tem vontade de conhecer com profundidade, a psicologia perinatal, o processo emocional da mulher, do bebê, da díade formada entre a mãe e o seu filho, da família e das pessoas em torno da grande novidade que é o nascimento de um bebê.

Para profissionais que já trabalham com gestantes, parturientes e puérperas, estudantes das áreas de saúde; educação e ciências humanas, como formação complementar, já que é um tema quase nunca exposto nos cursos de graduação como conteúdo básico.

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